O Instituto de Pesquisa da História da Luta de Libertação Nacional (IPHLLN) participou, de 6 a 7 de Julho corrente, na Terceira Conferência Internacional organizada pela UNESCO – África Austral na qual participaram veteranas das Lutas de Libertação da África Austral. Na reunião, o IPHLLN montou uma exposição de livros, resultado das suas pesquisas e distribuiu algumas obras de memórias da Luta de libertação Nacional.
A participação do Instituto de Pesquisa foi para além de uma exposição de livros na sala da conferência que durou dois dias. O IPHLLN, por incumbência de S. Excia Josefina Mpelo, a Ministra dos Combatentes, foi orientado para coordenar todo o processo relacionado com a realização da conferência, missão atribuída no dia em que a UNESCO abordou o Ministério dos Combatentes para acolher a reunião regional.
Nesse processo, o Instituto coordenou a equipa técnica do Ministério que, com a equipa da contraparte da UNESCO, trabalhou para, dentre vários aspectos, perceber o espírito do evento, socializar-se com os termos de referência apresentados pela UNESCO, bem como coordenar aspectos oficiais e da logística do encontro.
Os preparativos da conferência consistiram em três fases, sendo que o momento mais alto foi a apresentação de uma informação sobre o evento ao Conselho dos Ministros, através da Ministra dos Combatentes.

A Ministra dos Combatentes, Josefina Mpelo, pousou para a posteridade com os delegados na sessão de abertura da Conferência.

De acordo com o Director Geral do IPHLLN, Bernardo Nakatembo, os membros do Conselho de Ministros deram as suas contribuições e recomendações que foram determinantes para o envolvimento seguro de Moçambique no evento, bem como um número significativo de veteranas da Luta de Libertação Nacional, representando seis províncias do País.
“Depois de apresentação dos objectivos da conferência ao Conselho de Ministros, tivemos recomendações e essas foram cumpridas. Aumentou-se o número das veteranas de três para seis, respectivamente, das províncias de Cabo Delgado, Niassa, Manica, Tete, Sofala e Nampula. A nível da Cidade de Maputo, conseguimos levar para a conferência 12 veteranas de todos os distritos municipais”, referiu o director, coordenador da equipa técnica do Ministério dos Combatente.
Para a realização da conferência foram constituídos cinco painéis, tendo em cada um deles uma veterana de Moçambique que, ao lado de outras de outros países da África Austral, contaram suas histórias sobre a sua participação na Luta pela libertação de Moçambique, uma causa que bastante contribuiu para a libertação de alguns países da África Austral.
“Como uma instituição de pesquisa descobrimos que temos muito a fazer para registarmos as memórias e histórias dos veteranos, e sobretudo, mulheres que são cada vez mais esquecidas quando se trata das matérias relacionadas com as lutas de libertação”, reconheceu Nakatembo.
A realização dessa conferência em Moçambique permitiu ao Instituto de Pesquisa alargar o seu ângulo de visão e fortalecer a sua doutrina na perspectiva de pesquisa e recolha de depoimentos.


O Director-Geral do IPHLLN, Bernardo Nakatembro, interagindo com parte dos delegados à Conferência.

Porquê veteranas da África Austral

A entrada do Instituto de Pesquisa na história da África Austral é uma oportunidade para capitalizar as oportunidades há bastante procuradas com o estabelecimento de parceiras com organizações que lidam com a matéria da história de libertação.
As similitudes dos processos de libertação entre Moçambique e alguns países da África Austral, bem como os valores culturais que esses países congregam permitem que a natureza da pesquisa realizada pelo IPHLLN seja adaptada a uma história comum e com responsabilidade regional.
A África Austral é, por definição, conhecida colectivamente por seus valores do Ubuntu de que “não existimos sozinhos, mas com os outros, numa comunidade compartilhada”.
Essa solidariedade entre os países da região, definiu a resistência à ocupação colonial e depois as lutas de libertação contra a dominação colonial, a discriminação racial e o apartheid institucional, quando homens, mulheres e jovens lutaram por justiça, dignidade e paz.
Os movimentos de libertação deixaram uma rica herança de solidariedade regional e internacional que é instrumental na formação de noções, de espaço e sentido de pertença. No entanto, esta rica experiência não está sendo ensinada ou disseminada para as próximas gerações.
Como Instituto de Pesquisa, entendemos que o povo da África Austral que partilha um passado comum, uma herança cultural comum e uma visão comum para o futuro como uma comunidade regional ancorada na integração e desenvolvimento regional deve abrir um espaço para preservar e perpectuar e a sua história.
 A independência de toda a região foi alcançada através da mobilização a nível nacional e além-fronteiras, com apoio internacional, incluindo as Nações Unidas e com a participação de homens e mulheres jovens que saíram dos seus países para o exílio para organizar e pegar em armas para travar uma guerra de libertação.
A conferência nos ensinou que a região da África Austral pode beneficiar-se significativamente do conhecimento da história compartilhada e das experiências dos filhos e filhas que sacrificaram as suas vidas pela libertação da região, bem como das suas comunidades.
O papel das mulheres que participaram da libertação da região é um aspecto importante dessa história compartilhada que não foi suficientemente pesquisada e publicada. É essencial garantir que as mulheres compartilhem, entre si, a sua visão e experiência para ter uma apreciação equilibrada do passado histórico em direção a um futuro comum.
Falando sobre a libertação de África e mantendo-se fiel à luta, o Presidente fundador de Moçambique, Samora Machel, destacou o lugar central da mulher, afirmando: “A emancipação da mulher não é um acto de caridade, fruto de uma atitude humanitária ou compassiva. A libertação das mulheres é uma necessidade fundamental para a revolução, uma garantia da sua continuidade e uma pré-condição para sua vitória”.
A actual lacuna no ensino da história de libertação regional do SALH não permite a actualização do espírito do Ubuntu e dos valores regionais unificadores. Por isso, fundamental promover um senso de unidade para manter a paz na região.
As mulheres da África Austral desempenharam um papel significativo nesta história desde a resistência inicial à ocupação colonial. O passado informa o presente e, embora as mulheres tenham sido parte integrante da vitória sobre o colonialismo e o apartheid, a actual proporção de mulheres na liderança e tomada de decisão nos parlamentos nacionais da região é inferior a 50% nos estados membros da SADC.

Momento de descontração no decurso da conferência.

Actualmente, os processos para o estabelecimento de uma Rede de Mulheres para uma Cultura de Paz na África e na diáspora estão em andamento e são presididos pelo Gabinete da Enviada Especial da União Africana para Mulheres-Paz e Segurança e Escritório Regional da UNESCO para a África Central em Yaoundé, onde também as heroínas da libertação podem fazer a diferença.
Tal como ratificado pelo Protocolo à Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos sobre os Direitos das Mulheres em África (Protocolo de Maputo), mulheres e meninas devem ter igualdade de acesso à representação política, reconstrução pós-conflito e também devem ver refletidas nos seus líderes.
O reconhecimento e a integração de uma experiência de gênero durante as lutas de libertação da África Austral são essenciais para uma história compartilhada, inclusiva contra a dominação colonial e a discriminação, aumentando a paz, o reconhecimento e a solidariedade.
Nessa conferência, o programa SALH incluiu ferramentas de educação popular como uma instalação sonora e exibição de vídeo iniciada durante a conferência, bem como o anúncio oficial de “HERstory”, um concurso regional de contos de histórias que envolveu os jovens nesta memória colectiva regional, envolvendo-os como co-curadores da exposição. O concurso será lançado durante o evento paralelo à 42ª Conferência Geral da UNESCO em Paris, em 10 de Novembro de 2023, com a participação dos Chefes de Estado da SADC.
A Conferência Regional: “HERstory: Heroínas nas lutas de libertação na África Austral”, organizada pelo Escritório Regional da UNESCO para a África Austral (ROSA) com o apoio do Ministério dos Combatentes e do Centro de Pesquisa e Documentação da África Austral (SARDC), contou com a participação de Angola, Africa do Sul, Namíbia, Tanzânia e Zimbabwe.